Volta e meia a maior parte das
pessoas constata o inevitável: as próprias energias estão se esgotando. O que
parecia apenas cansaço muitas vezes se transforma em lapsos de memória e irritação. Nos casos
graves de exaustão, aparecem sintomas como enxaqueca, dor nas costas e no estômago
(e em alguns casos até úlcera), queda acentuada de cabelos e síndrome do
intestino irritável. Por trás do
desconforto físico está aquela conhecida palavrinha: estresse. Muitos ainda
torcem o nariz quando algum médico, psicólogo ou outro profissional da saúde
cogita esse diagnóstico, mas há um fato que não se pode negar: o esgotamento
mental está associado a muitos problemas que atacam os órgãos ou regiões
específicas do corpo.
Não é segredo que a natureza
dotou nossos antepassados pré-históricos com uma ferramenta para ajudá-los a
enfrentar ameaças: um sistema rápido de ativação capaz de aguçar a atenção,
acelerar as batidas do coração, dilatar os vasos sanguíneos e preparar os músculos
para lutar ou fugir de um predador que invadia a caverna. Porém nós, os humanos
modernos, estamos constantemente sujeitos ao estresse decorrente do estilo de
vida contemporâneo : excesso de trabalho, barulho, pressão social, doenças
físicas e desafios intelectuais. Como resultado, muitos órgãos de nosso corpo
são atingidos por uma descarga implacável de sinais de alarme que podem
danificá-los e nos fazer adoecer.
Apesar das mudanças no estilo
de vida, nosso sistema cerebral ainda excita rapidamente o coração, os pulmões
e outros órgãos, preparando-nos para enfrentar o perigo ou fugir dele. Afinal,
hoje não são as feras que nos incomodam, mas o
trânsito caótico, a sobrecarga de tarefas, os chefes intransigentes, os
colegas medíocres dos quais dependemos, o risco de sermos assaltados e tantas
outras ameaças. E quando enfrentamos estressores da vida moderna, o sistema
pode bombardear o corpo com sinais de alarme, capazes de comprometer nossa
saúde.
Quando os sentidos como visão,
audição, ou mesmo os pensamentos indicam estresse, o hipotálamo inicia uma
reação em cadeia, que envolve a amígdala (cérebro) e as glândulas pituitárias e adrenais, conduzida por impulsos nervosos e
uma cascata de hormônios, entre eles o CRH, o ACHT e os glucocorticoides. Se os
cientistas conseguirem determinar exatamente quais células receptoras no
cérebro e nas glândulas propagam os sinais de esgotamento, poderão criar drogas
específicas para interferir nesse processo, poupando os órgãos do esforço que o
estresse provoca.
O sistema de resposta do organismo
produz feedback positivo para fortalecer a própria ação do estresse quando
necessário, mas, se situações de tensão ocorrem constantemente (não raro em
várias ocasiões por dia), há um acúmulo que pode tornar-se perigosamente
intenso. Apropriada ou não, a reação depende, em grande parte, das células que
encobrem a glândula pituitária. O CRH
envia sinais para essas células por meio de moléculas receptores tipo 1 na
membrana celular. Há alguns anos, os pesquisadores do Instituto Salk e do
Instituto Max Planck de Psiquiatria em Munique criaram camundongos nos quais
receptores tipo 1 estavam ausentes. Mesmo quando expostos várias vezes a
situações estressantes, os níveis sanguíneos de certos hormônios do estresse
desses animais nunca se elevaram acima do normal. Eles sentiam-se obviamente
menos estressados. É possível que drogas capazes de suprimir os efeitos do CRH
nesses receptores possam, também reduzir os níveis de estresse em pessoas
perturbadas.
Conhecimentos mais recentes
acerca do funcionamento do cérebro oferecem fortes indícios de como a tensão
pode nos fazer adoecer e como neutralizar seus efeitos. Seja para um roedor,
seja para uma pessoa, qualquer ativação do sistema de estresse é um evento
extraordinário – e no momento em que a emergência termina, o sistema deve ser rapidamente
desligado, de modo que os órgãos afetados possam se recuperar. Contudo, quando
circunstâncias externas estimulam o sistema de estresse repetidamente, ele
nunca deixa de reagir, e os órgãos nunca conseguem relaxar. Tal tensão crônica
torna muitos tecidos vulneráveis a danos.
Mas nem toda reação é igual. Certo
nível básico, chamado estresse positivo, é até desejável, porque nos mantém física
e mentalmente prontos para agir bem. Porém, quando estamos em risco? Não há
resposta consensual a essa pergunta. Não sabemos quanto barulho no ambiente de
trabalho ou quantos relacionamentos rompidos nosso sistema de estresse pode
suportar. Entretanto, um conjunto de pesquisas em desenvolvimento mostra que o
estresse crônico compromete nossos órgãos e corpo. Embora já não enfrentemos o
animal faminto na caverna, podemos ter de nos defrontar com dilemas igualmente
terríveis, envolvendo diversos estressores mais insidiosos que estão sempre nos
agredindo.
Então, o que fazer para
diminuir a carga que pode nos prejudicar de forma tão grave? Cada vez mais
psicólogos e médicos alertam para uma
providência aparentemente simples, mas que pode fazer grande diferença
para o bem-estar físico e mental; criar “brechas de prazer” na rotina em vez de
apenas aguardar, ansiosamente, pelas
férias anuais. Ao praticar com frequência atividades prazerosas, de preferência
que envolvam movimento ou relaxamento do corpo – como caminhadas, esporte, dança,
meditação ou massagem – criamos válvulas de escape para a tensão, ajudando o
sistema cerebral a “descansar”. E assim ganhamos fôlego para aguardar as
merecidas férias.
(artigo extraído da Revista Mente Cérebro – Edição Especial no. 32 – “Sete Segredos do Cérebro Saudável”- autora – Selma Corrêa - jornalista)
Para saber mais:
· “Combate à exaustão
mental” – Robert Epstein – Coleção Doenças do Cérebro no. 3
· “As duas faces do
estresse” – Mathias V. Schmidt e Lars Schwabe – Coleção Doenças do Cérebro no.
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