domingo, 20 de dezembro de 2009

Sermão de Casamento - Mário Quintana



"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:
"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"
Acho simplista e um pouco fora da realidade.

Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A arte em toda experiência - Robert Happé




Estamos vivendo em um tempo dinâmico no qual a mudança está afetando todos os níveis de vida. Todos nós estamos sendo estimulados a nos preparar para nos unir. Em cada setor da vida nós precisamos implementar mudanças significativas e duradouras.




O que está acontecendo é o nascimento de um novo mundo e um novo tempo que estão vindo para implementar os processos de reforma. Isto significa libertar-se da negatividade que nos tem mantido presos a laços de terceira dimensão.

Na maioria das pessoas, o desejo pela evolução pessoal é muito pequeno devido à falta de informação útil ou de compreensão de si mesmos. Nenhuma pessoa é semelhante à outra devido às diferentes experiências que vivenciou, mas, ao mesmo tempo, todos viemos da mesma fonte. Tudo o que precisamos aprender é a cooperar, trabalhar juntos e crescer a partir do compartilhar do conhecimento.

Todas as pessoas do nosso planeta, sem exceção, estão aprendendo a encontrar o equilíbrio. O dogma das estruturas de crença presente em todo o mundo tem impedido o desenvolvimento natural do processo de humanização, tendo como resultado o fato de que a maioria perdeu o verdadeiro significado da sua presença neste belo planeta.

Todos nós, em nível de alma, escolhemos estar aqui, neste período incrível, para participar desta era única de renovação espiritual e transformação global. Muitos, contudo, têm tido dificuldade de abraçar a Verdade Universal e preferem se manter apegados a suas crenças dogmáticas. Eles se recusam a aceitar que o que lhes foi dito está errado! Eles se confortam em saber que terão oportunidades em outros mundos tridimensionais, os quais lhes permitirão lembrar da sua divindade e igualdade com todos. Não há punição para ninguém, apenas oportunidades para evoluir.

Não é fácil entender por que tantas pessoas são tão diferentes. Tudo é uma questão de ter conhecimento das necessidades de auto-realização e dos vários desafios que se encontram diante de nós e que requerem maestria. Os passos a serem dados, no intuito de compreender o nosso próprio processo de desenvolvimento, foram extirpados da humanidade e substituídos por dogmas, causando insegurança e a separação do amor, permitindo que o medo se tornasse a principal força motriz.

Quando alguém está assustado, afastado do coração e do amor, não há forma dele compreender algo com o qual, conscientemente, não consegue se relacionar. Contudo, a compreensão virá quando não mais houver separação entre a mente e a alma, entre o masculino e o feminino. A alma contém em seu banco de dados o conhecimento da Unidade de todos, incluindo a ciência das leis universais. Quando esta conexão interna entre mente e alma é feita, a compreensão se faz rapidamente.
Não estamos sendo forçados a escolher entre um caminho superior que conduz para o alto na direção de ações cooperativas, ou o caminho inferior que conduz para baixo para ações de competição.

Entrementes, a infusão de luz está fortalecendo nossas consciências e elevando a nossa sensibilidade. E muitos estão se tornando conscientes das novas escolhas a serem feitas. Em algum momento, num futuro breve, será finalmente compreendido que, não importa o trabalho que se faça, todos serão lembrados pela forma como tratam os outros.

O que também precisa ser lembrado é que tudo que tem sido considerado ruim no nosso mundo, foi necessário para que todos alcançassem o equilíbrio. Nós temos jogado o jogo do mocinho e do bandido, talvez por inúmeras vidas; tudo no intuito de atingir o verdadeiro equilíbrio.
É por isso que o conselho para todos nós é não julgar ninguém. Nesta era particularmente extraordinária em que terminam as lições kármicas das três dimensões, os extremos do bem e do mal não são mais necessários, já que a intensificação da luz está reconciliando os opostos. Só existe equilíbrio na luz.

Quando a mente consciente e a alma se unem e se tornam parceiros criativos, a consciência se torna desperta e todo o panorama, que só é conhecido atualmente a nível de alma, se desdobra. Cada transformação que ocorre dentro do indivíduo flui para fora de uma maneira limpa, penetrando as famílias e as comunidades nas quais eles vivem. Muitas pessoas sentem que elas devem fazer alguma coisa significativa. No entanto, devido à pobre conexão com sua alma e com sua missão-de-alma, elas se ressentem da falta de foco e se sentem impotentes no sentido de fazer a diferença.

Quando nos sentirmos mais confortáveis acerca de quem nós verdadeiramente somos, compreenderemos que todos nós somos filhos da luz, capazes de fazer brilhar a luz da bondade que cura toda a ignorância. Bondade (Goodness) não é diferente de divindade (Godliness).
Ajudar no processo do despertar dos outros traz equilíbrio para você e para eles. E a luz gerada por estas ações flui para fora e beneficia a todos. Nosso equilíbrio é uma contribuição sem preço para difundir o amor e o cuidado mundo afora. É este movimento de estados de consciência competitiva para estados de consciência cooperativa que gera equilíbrio em todos os níveis. A Educação deve ser alinhada a este propósito. A competição consigo mesmo para fazer o melhor deveria ser encorajada.

O medo e a confusão que a maioria das pessoas vivencia, vêm do não saber o que está acontecendo. Paz e equilíbrio chegam a partir do saber o que está acontecendo. Quando a educação se torna encorajadora e apoiadora no sentido de conduzir os alunos a buscar o despertar e a compreensão espiritual do processo de desenvolvimento, nós teremos paz no nosso amado planeta em uma década.

A arte em toda a experiência é amar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ciência e Religião – Albert Einstein

A ciência, porém, só pode ser criada por quem esteja plenamente imbuído da aspiração e verdade, e ao entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, brota na esfera da religião. A esta se liga também a fé na possibilidade de que as regulações válidas para o mundo da existência sejam racionais, isto é, compreensíveis à razão.
Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência écega.
Embora eu tenha afirmado acima que um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir verdadeiramente, devo fazer uma ressalva a esta afirmação, mais uma vez, num ponto essencial, com referencia ao conteúdo efetivo das religiões históricas. Esta ressalva tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou a sua própria imagem ‘deuses’ que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor, por meio da magia e da prece. A idéia de Deus, nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces, a suplicarem a realização de seus desejos.
Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível às mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser ‘todo-poderoso’? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?
A principal fonte dos conflitos atuais entre as esferas da religião e da ciência reside nesse conceito de um Deus pessoal. A ciência tem por objetivo estabelecer regras gerais que determinem a conexão recíproca de objetos e eventos no tempo e no espaço. A validade absolutamente geral dessas regras, ou leis da natureza, e algo que se pretende - mas não se prova. Trata-se, sobretudo de um projeto, e a confiança na possibilidade de sua realização, por princípio, funda-se apenas em sucessos parciais. Seria difícil, porém, encontrar alguém que negasse esses sucessos parciais e os atribuísse a ilusão humana. O fato de sermos capazes, com base nessas leis, de predizer o comportamento temporal dos fenômenos de certos domínios, com grande precisão e certeza, está profundamente enraizado na consciência do homem moderno, ainda que possamos ter apreendido muito pouco do conteúdo dessas leis. Basta considerarmos que as trajetórias planetárias do sistema solar podem ser antecipadamente calculadas, com grande exatidão, com base num número limitado de leis simples. De maneira similar, embora não com a mesma precisão, é possível calcular antecipadamente o modo de funcionamento de um motor elétrico, de um sistema de transmissão ou de um aparelho de rádio, mesmo quando estamos lidando com uma invenção inédita.
Quanto mais o homem esta imbuído da regularidade ordenada de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não sobra lugar, ao lado dessa regularidade ordenada, para causas de natureza diferente. Para ele, nem o domínio da vontade humana, nem o da vontade divina existirão como causa independente dos eventos naturais. Não há dúvida de que a doutrina de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais jamais poderia ser refratada, no sentido verdadeiro, pela ciência, pois essa doutrina pode sempre procurar refúgio nos campos em que o conhecimento científico ainda não foi capaz de se firmar. Estou convencido, porém, de que tal comportamento por parte dos representantes da religião seria não só indigno como desastroso. Pois uma doutrina que não é capaz de se sustentar à “plena luz”, mas apenas na escuridão, está fadada a perder sua influência sobre a humanidade, com incalculável prejuízo para o progresso humano. Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar a fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes. Em seu ofício, terão de se valer daquelas forças que são capazes de cultivar o Bom, o Verdadeiro e o Belo na própria humanidade. Trata-se, sem dúvida, de uma tarefa mais difícil, mas incomparavelmente mais valiosa. Quando tiverem realizado esse processo de depuração, os professores da religião certamente hão de reconhecer com alegria que a verdadeira religião ficou enobrecida e mais profunda graças ao conhecimento científico.
Se um dos objetivos da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, da servidão dos anseios, desejos e temores egocêntricos, o raciocínio científico pode ajudar a religião em mais um sentido. Embora seja verdade que a meta da ciência é descobrir regras que permitam associar e prever os fatos, essa não é sua única finalidade. Ela procura também reduzir as conexões descobertas ao menor número possível de elementos conceituais mutuamente independentes.
E nessa busca da unificação racional do múltiplo que a ciência logra seus maiores êxitos, embora seja precisamente essa tentativa que a faz correr os maiores riscos de se tornar uma presa das ilusões. Mas todo aquele que experimentou intensamente os avanços bem-sucedidos feitos nesse domínio é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Através da compreensão, ele conquista uma emancipação de amplas conseqüências dos grilhões das esperanças e desejos pessoais, atingindo assim uma atitude mental de humildade perante a grandeza da razão que se encarna na existência e que, em seus recônditos mais profundos, é inacessível ao homem. Essa atitude, contudo, parece-me ser religiosa, no mais elevado sentido da palavra. A meu ver, portanto, a ciência não só purifica o impulso religioso do entulho de seu antropomorfismo, como contribui para uma ‘espiritualização’ religiosa de nossa compreensão da vida.
Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, ou pela fé cega, mas pelo esforço em busca do conhecimento racional.
Neste sentido, acredito que o sacerdote, se quiser fazer jus a sua ’sublime’ missão educacional, deve tornar-se um professor.

Trechos extraídos de:
Ciência e Religião” (1939-1941) - Págs. 25 a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título original: “Out of my later years.”
Escritos da Maturidade: artigos sobre ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião.
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges - Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 1994.
Olá, receba as boas vindas e um abraço.
Marcia

Quem sou eu

Minha foto
Psicóloga junguiana com visão transpessoal