domingo, 16 de setembro de 2012

Descanso Terapêutico


Volta e meia a maior parte das pessoas constata o inevitável: as próprias energias estão se esgotando. O que parecia apenas cansaço muitas vezes se transforma  em lapsos de memória e irritação. Nos casos graves de exaustão, aparecem sintomas como enxaqueca, dor nas costas e no estômago (e em alguns casos até úlcera), queda acentuada de cabelos e síndrome do intestino irritável.  Por trás do desconforto físico está aquela conhecida palavrinha: estresse. Muitos ainda torcem o nariz quando algum médico, psicólogo ou outro profissional da saúde cogita esse diagnóstico, mas há um fato que não se pode negar: o esgotamento mental está associado a muitos problemas que atacam os órgãos ou regiões específicas do corpo.
Não é segredo que a natureza dotou nossos antepassados pré-históricos com uma ferramenta para ajudá-los a enfrentar ameaças: um sistema rápido de ativação capaz de aguçar a atenção, acelerar as batidas do coração, dilatar os vasos sanguíneos e preparar os músculos para lutar ou fugir de um predador que invadia a caverna. Porém nós, os humanos modernos, estamos constantemente sujeitos ao estresse decorrente do estilo de vida contemporâneo : excesso de trabalho, barulho, pressão social, doenças físicas e desafios intelectuais. Como resultado, muitos órgãos de nosso corpo são atingidos por uma descarga implacável de sinais de alarme que podem danificá-los e nos fazer adoecer.
Apesar das mudanças no estilo de vida, nosso sistema cerebral ainda excita rapidamente o coração, os pulmões e outros órgãos, preparando-nos para enfrentar o perigo ou fugir dele. Afinal, hoje não são as feras que nos incomodam, mas o  trânsito caótico, a sobrecarga de tarefas, os chefes intransigentes, os colegas medíocres dos quais dependemos, o risco de sermos assaltados e tantas outras ameaças. E quando enfrentamos estressores da vida moderna, o sistema pode bombardear o corpo com sinais de alarme, capazes de comprometer nossa saúde.
Quando os sentidos como visão, audição, ou mesmo os pensamentos indicam estresse, o hipotálamo inicia uma reação em cadeia, que envolve a amígdala (cérebro) e as glândulas pituitárias  e adrenais, conduzida por impulsos nervosos e uma cascata de hormônios, entre eles o CRH, o ACHT e os glucocorticoides. Se os cientistas conseguirem determinar exatamente quais células receptoras no cérebro e nas glândulas propagam os sinais de esgotamento, poderão criar drogas específicas para interferir nesse processo, poupando os órgãos do esforço que o estresse provoca.
O sistema de resposta do organismo produz feedback positivo para fortalecer a própria ação do estresse quando necessário, mas, se situações de tensão ocorrem constantemente (não raro em várias ocasiões por dia), há um acúmulo que pode tornar-se perigosamente intenso. Apropriada ou não, a reação depende, em grande parte, das células que encobrem  a glândula pituitária. O CRH envia sinais para essas células por meio de moléculas receptores tipo 1 na membrana celular. Há alguns anos, os pesquisadores do Instituto Salk e do Instituto Max Planck de Psiquiatria em Munique criaram camundongos nos quais receptores tipo 1 estavam ausentes. Mesmo quando expostos várias vezes a situações estressantes, os níveis sanguíneos de certos hormônios do estresse desses animais nunca se elevaram acima do normal. Eles sentiam-se obviamente menos estressados. É possível que drogas capazes de suprimir os efeitos do CRH nesses receptores possam, também reduzir os níveis de estresse em pessoas perturbadas.
Conhecimentos mais recentes acerca do funcionamento do cérebro oferecem fortes indícios de como a tensão pode nos fazer adoecer e como neutralizar seus efeitos. Seja para um roedor, seja para uma pessoa, qualquer ativação do sistema de estresse é um evento extraordinário – e no momento em que a emergência termina, o sistema deve ser rapidamente desligado, de modo que os órgãos afetados possam se recuperar. Contudo, quando circunstâncias externas estimulam o sistema de estresse repetidamente, ele nunca deixa de reagir, e os órgãos nunca conseguem relaxar. Tal tensão crônica torna muitos tecidos vulneráveis a danos.
Mas nem toda reação é igual. Certo nível básico, chamado estresse positivo, é até desejável, porque nos mantém física e mentalmente prontos para agir bem. Porém, quando estamos em risco? Não há resposta consensual a essa pergunta. Não sabemos quanto barulho no ambiente de trabalho ou quantos relacionamentos rompidos nosso sistema de estresse pode suportar. Entretanto, um conjunto de pesquisas em desenvolvimento mostra que o estresse crônico compromete nossos órgãos e corpo. Embora já não enfrentemos o animal faminto na caverna, podemos ter de nos defrontar com dilemas igualmente terríveis, envolvendo diversos estressores mais insidiosos que estão sempre nos agredindo.
Então, o que fazer para diminuir a carga que pode nos prejudicar de forma tão grave? Cada vez mais psicólogos e médicos alertam para uma  providência aparentemente simples, mas que pode fazer grande diferença para o bem-estar físico e mental; criar “brechas de prazer” na rotina em vez de apenas aguardar, ansiosamente,  pelas férias anuais. Ao praticar com frequência atividades prazerosas, de preferência que envolvam movimento ou relaxamento do corpo – como caminhadas, esporte, dança, meditação ou massagem – criamos válvulas de escape para a tensão, ajudando o sistema cerebral a “descansar”. E assim ganhamos fôlego para aguardar as merecidas férias.

(artigo extraído da Revista Mente Cérebro – Edição Especial no. 32 – “Sete Segredos do Cérebro Saudável”- autora – Selma Corrêa - jornalista)

Para saber mais:
·   “Combate à exaustão mental” – Robert Epstein – Coleção Doenças do Cérebro no. 3
·  “As duas faces do estresse” – Mathias V. Schmidt e Lars Schwabe – Coleção Doenças do Cérebro no. 3


  

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Vulnerabilidade dos GUARANI KAIOWÁ



(extraído do Jornal PSI – no. 172 de Jun/Jul – 2012 do Conselho Regional de Psicologia SP)

Um ligeiro zoom com o Google Maps sobre algumas áreas em torno do Cone Sul do Mato Grosso do Sul mostra o que poderia ser uma pintura abstrata: áreas de cultivo de cana, soja e milho formam um patchwork elegante e discreto em tons suaves de verde e marrom. É a superfície visível sobre a qual está assentada uma parte do agronegócio brasileiro, responsável por uma exportação recorde de 95 bilhões de dólares em 2011. O que a ferramenta do Google não mostra, mesmo elevando-se o zoom ao máximo, é o sofrimento, a miséria e o genocídio a que vem sendo submetido o povo Guarani Kaiowá que habita aquela região. Sitiados em aldeias, algumas espremidas em nesgas de matas cercadas de jagunços por todos os lados, cerca de 2 mil deles tentam se manter vivos, contra todo o poder à sua volta.
O símbolo maior da resistência a esse avanço é, ainda hoje, o cacique Marcos Veron, assassinado em 13 de janeiro de 2003, na aldeia Takuara. Levados à julgamento, três pistoleiros foram condenados por crime de sequestro, tortura e formação de quadrilha, mas absolvidos do crime de homicídio. O fazendeiro proprietário da fazenda Brasília do Sul, mandante do assassinato, ainda não sentou no banco dos réus. Desde então, a violência contra os Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul aumentou.

Em 2007, por exemplo, 35 indígenas foram assassinados e houve pelo menos mais 26 tentativas, algumas delas envolvendo crianças entre 8 e 12 anos, segundo carta então endereçada à presidência da República pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Recentemente, em novembro de 2011, uma comunidade Kaiowá foi atacada por cerca de 40 pistoleiros. Um indígena foi assassinado e quatro desapareceram. Desde a morte de Veron, 258 lideranças foram exterminadas.

Pode-se procurar, além dos(as) culpados(as) de sempre, os(as) corresponsáveis por essa situação de tragédia.  O Artigo 231, parágrafo 1 e 4 da Constituição Federal, reconhece o direito à terra originária. Houvessem essas terras sido demarcadas conforme previsto desde 2008 pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e talvez os Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul não estivessem enfrentando a perda do pouco que  lhes restou em processo de reintegração de posse que corre na justiça federal. Tivesse havido uma posição mais clara por parte dos órgãos de Estado no sentido de coibir a violência, e a situação naquela área poderia ser menos desesperadora. Não é por acaso que o Tribunal Popular da Terra, rede de organizações voltada à denúncia de violações aos Direitos Humanos realizou, em São Paulo, dois “julgamentos” do Estado brasileiro.

Tratam-se , é claro, de julgamentos políticos. Para recolher elementos de prova sobre a situação ali existente, mas também para dar visibilidade a uma questão que escapa tanto aos satélites do Google como à pauta jornalística da mídia dominante, o Tribunal Popular organizou uma expedição à região. Formada por 48 membros, entre eles indígenas, profissionais e representantes de entidades diversas, a viagem se estendeu dos dias 11 a 22 de janeiro desta ano e teve como objetivo principal a produção de um relatório.
(...) O clima de tensão ficou especialmente evidente no dia da visita à aldeia Laranjeira Nhánderu, no município de Rio Brilhante. Por ordem da Justiça , os(as) indígenas daquela aldeia já foram despejados(as) três vezes de suas terras e ficaram um ano e sete meses na beira da estrada. No último despejo, um jovem Guarani Kaiowá suicidou-se, cinco pessoas morreram atropeladas e um bebê de seis meses teve óbito por envenenamento. A aldeia, o que restou dela, fica sitiada por uma plantação de soja. Os acessos, quando a expedição para lá se dirigiu, foram impedidos por caminhões e por um dispositivo de arar a terra. Homens armados circulavam pelas redondezas bordo de veículos. Depois de contatos telefônicos com a Funai, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça chegaram ao local (três agentes da PF e dois da Funai). A visita foi realizada, mas envolveu contatos com o dono da fazenda ao redor da aldeia. Na conversa, e como se tivesse direito para tanto, o proprietário conhecido como Raul “Português” tentou obter nome e RG dos(as) participantes da Expedição.

A presença de psicólogos(as) na expedição, teve como objetivo avaliar aspectos relativos à saúde mental da população indígena na região. Com as repetidas ameaças de morte, as pessoas vivem em permanente estado de tensão, afirma o conselheiro do CFP, Pedro Paulo Bicalho. O psicólogo Alessandro Campos acrescenta que os(as) indígenas não dispõem nem mesmo do tempo necessário para concluir o processo de luto. Todo esse sofrimento resulta em tragédias, como o aumento do número de suicídios na população indígena – fato que foi especialmente realçado pelo Mapa da Violência/2011, realizado pelo Instituto Sangari para o Ministério da Justiça. Vale lembrar que mais de 50 mil indígenas do povo Guarani Kaiowá que hoje sobrevivem em oito reservas demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio em todo o Brasil enfrentam situações parecidas.

(...) A falta de profissionais para a demanda das aldeias também agrava o precário acompanhamento que é muito mais paliativo do que o exercício de uma política pública de prevenção. (...) Há ainda a degradação ambiental, o confinamento, a escassez de recursos como água e comida. Durante a expedição, por exemplo, ficou constatado que, em algumas aldeias, há três dias não havia comida nem para as crianças. Como isso não bastasse, outras formas de comprometimento são evidentes. “ Sua cosmovisão, que possui a função de organizar a subjetividade individual e o corpo social, é permanentemente golpeada e destruída por grupos religiosos que não respeitam suas crenças, por jagunços e por um Estado negligente e conivente com a violação de direitos humanos”, diz o psicólogo e professor Alessandro Campos.

Ainda que a expedição tenha alcançado seus objetivos mais imediatos, o educador social e um dos coordenadores da iniciativa representando o Tribunal Popular, Givanildo Manoel, está ciente de que a luta dos Guarani Kaiowá do MS está longe do fim. “Fora do Brasil o assunto tem muita repercussão; aqui dentro, menos”, afirma. Segundo ele, o brasileiro tem uma visão eurocêntrica do assunto: “Muitos acreditam que os indígenas utilizam espaços demais, que a terra deve ser utilizada de outras maneiras. O olhar do agronegócio está presente na visão do brasileiro e ninguém pensa nas consequências que isso pode trazer para o Brasil e para o mundo”, afirma. 

Esforços como o da expedição e os vídeos e fotos produzidos nas aldeias talvez ajudem a modificar a situação. Pela Internet, podem revelar aquilo que os satélites não têm condições de mostrar e o que muitos(as) outros(as) preferem não ver.

sábado, 14 de julho de 2012

Nunca parar de descobrir o mundo

O que de fato importa

Analisando estudos longitudinais, os psicólogos começam a se dar conta de que a imagem da meia-idade que tivemos durante muito tempo era incompleta e enganosa. Estudos reunidos por Barbara (Barbara Strauch - no livro "O melhor cérebro da sua vida" - Zahar - 2011) indicam que talvez seja a própria natureza do envelhecimento do cérebro que nos dá uma perspectiva mais ampla do mundo, uma capacidade de discernir padrões e até sermos mais criativos.
Nessa fase da vida as pessoas “estão mais aptas a avaliar aspectos de problemas complexos e encontrar respostas concretas, em comparação ao próprio desempenho 20 ou 30 anos atrás. Também é possível lidar mais calmamente com emoções e informações – valorizando o que realmente importa e deixando de lado o que pode (e deve) ser ignorado sem grande prejuízo.
Entre todas as habilidades singulares do cérebro maduro, talvez nenhuma seja tão ou potencialmente promissora quanto o talento para a “bilateralização”. Essa espécie de “truque” aprendido com o passar do tempo parece ser uma estratégia adaptativa que alguns cérebros adotam para se manter fortes. “Em algum ponto da meia-idade começamos a desenvolver a capacidade de usar com  maior frequência os dois hemisférios cerebrais, em vez de privilegiar um deles”, afirma Barbara. Ela salienta que essa descoberta ajuda a entender por que pessoas mais velhas tendem a ter uma visão panorâmica das situações e perceber interligações. Embora seja uma característica observada em outras épocas da vida ( e obviamente varie de indivíduo para indivíduo), o “talento bilateral” comumente se inicia na meia-idade.
É possível pensar que usar os dois hemisférios para fazer o que um só era capaz quando éramos mais jovens aponta para uma carência que pede compensação. Mas um aspecto intrigante da bilateralização é que não são os cérebros mais hábeis e capazes que passam por esse fenômeno, como simplesmente se recusassem a “entregar os pontos”. Quando as dificuldades começam a surgir, sem grande esforço o cérebro “acostumado a trabalhar” chama para si a responsabilidade e vai atrás do melhor resultado. “Usamos o que nos resta de melhor e talvez isso tenha seu maior impacto na meia-idade não por estarmos aposentados, mas por ainda estarmos trabalhando e ainda precisarmos muito de nossas faculdades em ordem’, afirma o neurocientista Roberto Cabeza, pesquisador da Universidade Duke que ajudou a desvendar esse truque neurológico. “Os hemisférios esquerdo e direito ficam mais integrados na meia-idade, abrindo caminho para maior criatividade”, considerou o psiquiatra Gene Cohen, pesquisador da Universidade George Washington. Morto em 2009, é autor de The mature mind (não publicado no Brasil). “Os neurônios em si talvez percam parte da velocidade de processamento com a idade, mas as informações se entrelaçam de maneira cada vez mais enriquecedora”, escreveu. Ele estudou os efeitos da arte sobre o cérebro e sustentou que a bilateralização pode favorecer a criatividade, já que facilita a conciliação de percepções intuitivas, afeto e interpretação de sinais faciais e corporais com a fala e o raciocínio lógico, por exemplo.
Na verdade, os cientistas imaginavam descobrir o inverso, já que durante muitos anos prevaleceu a convicção de que, ao envelhecer, o órgão mais sofisticado do corpo humano usava uma parcela muito menor dele mesmo – e não maior. O protótipo  da descrição do envelhecimento neural era semelhante ao de uma  lesão, e partia-se da crença de que, à medida que envelheciam, as pessoas se tornavam mentalmente mais preguiçosas. Medições anteriores, mais grosseiras, constatavam que a maioria dos cérebros mais velhos seriam cérebros fracos – por isso paravam de se esforçar muito e ativavam menos neurônios. Essa visão, entretanto, foi virada do avesso.
A autoimagem também pode ser um fator decisivo na qualidade do amadurecimento. Um estudo desenvolvido pela psicóloga Becca Levy, da Universidade Yale, mostrou que a memória de pessoas idosas melhorava depois da simples visão de palavras positivas associadas a envelhecimento – por exemplo, sensato, alerta, sábio e capaz. Mesmo quando os vocábulos foram exibidos depressa demais para que os participantes se conscientizassem da leitura, em algum nível ela surtiu efeito. Já os qe viam de relance palavras negativas como declínio, senil, decrépito, demência e confuso se saíam pior nos testes de memória.
O psicólogo  Thomas Hess, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, constatou que as atitudes são como profecias que sempre se realizam. Em seus estudos, as pessoas acima de 60 anos apresentavam pior desempenho nos testes de memória quando primeiro lhes era dito algo negativo sobre a velhice, como informar que o estudo que estava para começar era sobre “como a idade afeta a aprendizagem e a memória”. No entanto, quando primeiro eram apresentadas informações como a “ de que não há grande declínio da memória como o envelhecimento”, o desempenho nos testes melhorava. Constatações como essas confirmam que o cérebro maduro é ainda um fascinante mistério – e, talvez, estejamos começando a descobrir que o melhor ainda está por vir.


(extraído do artigo de mesmo nome da revista "Mente e Cérebro" - Edição especial nº 32 – de escrito por Selma Corrêa – jornalista)

Julho de 2012.

O TERCEIRO CAMINHO - Uma mensagem de Jeshua canalizada por Pamela Kribbe em junho de 2012


(apenas parte do texto)

A única maneira de não se tornar inconsciente é observar silenciosamente a extensão completa da emoção, mantendo-se, assim, inteiramente presente. Você não se deixa envolver – nem pela emoção, nem pelo julgamento da emoção. Você observa-a em total consciência e com um sentimento de suavidade: “É assim que acontece em mim. Vejo a raiva surgir em mim; sinto-a percorrer meu corpo. Meu estômago reage… ou meu coração. Meus pensamentos estão correndo para justificar minha emoção. Meus pensamentos me dizem que estou certo e não a outra pessoa.” Tudo isto você pode ver acontecendo enquanto se observa, mas você não vai junto. Você não mergulha nisso, não se afoga. Isto é consciência – isto é clareza de mente. E, deste modo, você põe para descansar todos os “demônios” da sua vida: o medo, a raiva, a desconfiança. Você lhes dá força quando se identifica com eles, ou quando os combate com julgamento – das duas formas, você os alimenta. O único modo de transcendê-los é se elevar acima deles, por assim dizer, com a sua consciência – não lutar contra eles, mas simplesmente deixá-los ser o que são.

O que acontece com você então? A consciência não é algo estático; as coisas não se mantém como são. Você perceberá que, se não alimentar as energias da emoção ou do seu julgamento a respeito dela, elas se dissiparão gradualmente. Em outras palavras, seu equilíbrio torna-se mais forte; seus sentimentos básicos passam a ser os de paz e de alegria. Porque, se não há mais batalha no seu coração e na sua alma, a alegria vem borbulhando para cima. Você enxerga a vida com um olhar mais brando. Você vê o movimento das emoções no seu corpo e o observa. E observa também os pensamentos que começam a correr pela sua cabeça, com um olhar suave e brando. Saiba que a capacidade de observar e não ser engolido é algo muito poderoso e forte. Esta é a saída!


sexta-feira, 6 de julho de 2012

O dia número UM


Todos os dias parecem iguais. O número um, o dois, o três.... até o 365º dia.
Será assim mesmo? Ou somos nós que os tornamos monótonos e idênticos?
E será que somos assim tão inconscientes?
“A vida é tão rara...”, como dizia o Lenine em sua linda música.
A vida é única para cada um de nós. Ela começa e acaba. Mas nós vivemos como se ela fosse sem fim, mas não é.
Então, como podemos celebrar a vida?
Vivendo cada dia como se fosse o único dia, o dia número UM.
Deveríamos viver cada dia dando o melhor de nós ao trabalho, aos colegas, aos amigos, aos amores, aos filhos, aos pais, à família.
Mesmo que esse dia tenha sido infernal, ainda assim, aprendemos algo, dissemos ou fizemos alguma coisa que ajudou alguém. Alguém nos disse algo que nos ajudou, ou , pelo menos, um sorriso e um bom dia nós demos e recebemos.
O que ocorre é que focalizamos nossa atenção no ruim, sempre no ruim, e poucas vezes no bom.
Não estou dizendo que devemos enterrar a cabeça no buraco, como faz o avestruz.
Mas, podemos extrair de nosso dia um pouco de felicidade, mesmo que seja um instante fugaz.
E felicidade é isso: pequenos momentos que deixamos passar devido à nossa onipotência em achar que somos os únicos que sofrem ou que têm problemas.
A vida é rara e complexa, e temos a obrigação, como seres inteligentes que somos, em torná-la boa para nós e para os outros, construindo em nossos dias, esses momentos felizes, que nos alimentam e nos dão a sensação de estarmos unidos, de fazermos parte desta imensa rede – a humanidade.

Marcia Maria de Rizzo - 06-07-2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O acaso nas relações humanas


O acaso não existe. Nossos amigos, colegas de trabalho, namorados, maridos, amantes e familiares estão em nossas vidas por motivos que vão muito além da capacidade do nosso entendimento racional.

O encontro entre duas pessoas é sempre importante – há um motivo maior para elas terem se encontrado. Cada ser é um mundo completo e reproduz o universo maior. Espelha toda a complexidade da vida e das relações humanas.

Ao nos relacionarmos com qualquer pessoa, seja através de um olhar, de um toque ou de uma palavra, entramos naquela fração de universo que corresponde aquele ser.

Somos células de um organismo maior, e para o bom funcionamento deste, tudo deve estar orquestrado e harmonizado. Parece haver um princípio maior que rege essa orquestra, e que mantém os corpos e mentes das pessoas funcionando e com saúde.

Ao nos afastarmos desse princípio, nossa saúde física, emocional, mental e espiritual sofre distorções, que podem chegar até o plano físico.

A saúde é restabelecida quando nos re-alinhamos com a totalidade, com os nossos mais íntimos desejos e aspirações, e principalmente, quando “ouvimos” nossas emoções. Elas nos protegem e nos conectam com o maior, com o princípio organizador, que podemos chamar de inconsciente, de self ou de fonte. O nome é o que menos importa. O que conta é que nos dirigimos para certas experiências para resolvermos determinados “nós”, que ao serem desfeitos, propiciam um maior nível de felicidade pessoal.

Marcia Maria de Rizzo
Abril de 2012

domingo, 1 de abril de 2012

Nova Cosmologia e Libertação

Tempos atrás o Museu Americano de História Natural fez uma consulta entre biólogos  perguntando se eles acreditavam que estávamos no meio de uma extinção em massa. 70% responderam positivamente que sim. O renomado cosmólogo Brian Swimme, autor junto com Thomas Berry de uma das mais brilhantes narrativas da história do Universo (The Universe Story,1992) foi perguntado o que poderíamos fazer, respondeu:”O universo já vem, há tempos, fazendo a sua parte para deter o desastre; mas nós temos que fazer a nossa. E o faremos mediante o despertar de uma nova consciência cosmológica, vale dizer, se ajustarmos  nossas condutas à lógica do Universo. Mas não estamos fazendo o suficiente”.


Que quer dizer esta resposta? Ela acena para uma nova  consciência que assume a responsabilidade coletiva com referência à proteção de nossa Casa Comum e à salvaguarda de nossa civilização. E ajustar nossas condutas à lógica do Universo significa responder aos apelos que nos vem do assim chamado “princípio cosmogênico”. Este é o que estrutura a expansão e a autocriação do universo com todos os seus seres inertes e vivos. Ele se manifesta por três características: a diferenciação/complexificação; a subjetividade/interiorização; e a interdependência/comunhão.


Em palavras mais simples: quanto mais o universo se expande, mais se complexifica: quanto mais se complexifica mais ganha  interiozação e a subjetividade (cada ser tem seu modo próprio de se relacionar e fazer a sua história) e quanto mais ganha interiorização e subjetiviadade  mais os seres todos entram em comunhão entre si e reforçam sua interdependência no quadro de um pertencimento a um grande Todo. Comentam Berry/Swimme:”Se não tivesse havido complexidade (diferenciação), o universo ter-se-ia fundido numa massa homogênea; se não tivesse havido subjetividade, o universo ter-se-ia tornado uma extensão inerte e morta: se não tivesse havido comunhão, o universo ter-se-ia transformado num número de eventos isolados”.

Nós teólogos da libertação, em quarenta anos de reflexão, temos  tentado explorar as dimensões econômicas,sociais, antropológicas e espirituais da libertação como resposta às opressões específicas. No contexto da crise ecológica generalizada, estamos tentando  incorporar esta visão cosmológica. Esta nos obrigou a quebrar o paradigma  convencional com o qual organizávamos nossas reflexões, ligadas  ainda à cosmologia mecanicista e estática. A nova cosmologia vê diferentemente o universo, como um processo incomnsurável de evolução/expansão/criação, envolvendo tudo o que se passa em seu interior, também a consciência e sociedade.

Em termos do princípio cosmológico, libertação pessoal significa: libertar-se de amarras  para sentir-se em comunhão com todos os seres e com o universo,  fenômeno que os budistas chamam de “iluminação” (satori), uma experiência de não-dualidade e que São Francisco viveu no sentido de uma irmandade aberta com todos os seres. Em termos sociais, a libertação, à luz do princípio cosmogênico é: a criação de uma sociedade sem opressões onde as diversidades são valorizadas e expandidas (de gênero, de culturas e caminhos espirituais). Isso implica deixar para trás a monocultura do pensamento único na política, na economia e na teologia oficial. Este é o principal fator de opressão e de homogeneização.

A libertação requer também um aprofundamento da interioridade. Esta já não se satisfaz com o mero consumo de bens materiais; pede valores ligados à criatividade, às artes, à meditação e à comunhão com a Mãe Terra e com o Universo. A libertação resulta do reforço da “matriz relacional” especialmente com aqueles que sofrem injustiças e são excluidos. Esta matriz nos faz sentir  membros da comunidade de vida e filhos e filhas da  Mãe Terra que através de nós sente, ama, cuida e se preocupa pelo futuro comum.

Por fim, a libertação na perspectiva cosmogênica demanda uma nova consciência de interdependência e de responsabilidade universal. Somos chamados a reinventar nossa espécie, como o fizemos no passado nas várias crises pelas quais a humanidade passou. Agora ela é urgente porque não temos muito tempo e  devemos estar à altura dos desafios da atual crise da Terra.
Domingo, 01-04-2012

Olá, receba as boas vindas e um abraço.
Marcia

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Psicóloga junguiana com visão transpessoal