O que de fato importa
Analisando estudos longitudinais, os psicólogos começam a se dar
conta de que a imagem da meia-idade que tivemos durante muito tempo era
incompleta e enganosa. Estudos reunidos por Barbara (Barbara Strauch - no livro
"O melhor cérebro da sua vida" - Zahar - 2011) indicam que talvez
seja a própria natureza do envelhecimento do cérebro que nos dá uma
perspectiva mais ampla do mundo, uma capacidade de discernir padrões e até
sermos mais criativos.
Nessa fase
da vida as pessoas “estão mais aptas a avaliar aspectos de problemas complexos
e encontrar respostas concretas, em comparação ao próprio desempenho 20 ou 30
anos atrás. Também é possível lidar mais calmamente com emoções e informações –
valorizando o que realmente importa e deixando de lado o que pode (e deve) ser
ignorado sem grande prejuízo.
Entre todas
as habilidades singulares do cérebro maduro, talvez nenhuma seja tão ou
potencialmente promissora quanto o talento para a “bilateralização”. Essa
espécie de “truque” aprendido com o passar do tempo parece ser uma estratégia
adaptativa que alguns cérebros adotam para se manter fortes. “Em algum ponto da
meia-idade começamos a desenvolver a capacidade de usar com maior frequência os dois hemisférios
cerebrais, em vez de privilegiar um deles”, afirma Barbara. Ela salienta que
essa descoberta ajuda a entender por que pessoas mais velhas tendem a ter uma
visão panorâmica das situações e perceber interligações. Embora seja uma característica
observada em outras épocas da vida ( e obviamente varie de indivíduo para
indivíduo), o “talento bilateral” comumente se inicia na meia-idade.
É possível
pensar que usar os dois hemisférios para fazer o que um só era capaz quando éramos
mais jovens aponta para uma carência que pede compensação. Mas um aspecto
intrigante da bilateralização é que não são os cérebros mais hábeis e capazes
que passam por esse fenômeno, como simplesmente se recusassem a “entregar os
pontos”. Quando as dificuldades começam a surgir, sem grande esforço o cérebro “acostumado
a trabalhar” chama para si a responsabilidade e vai atrás do melhor resultado. “Usamos
o que nos resta de melhor e talvez isso tenha seu maior impacto na meia-idade
não por estarmos aposentados, mas por ainda estarmos trabalhando e ainda
precisarmos muito de nossas faculdades em ordem’, afirma o neurocientista Roberto
Cabeza, pesquisador da Universidade Duke que ajudou a desvendar esse truque neurológico.
“Os hemisférios esquerdo e direito ficam mais integrados na meia-idade, abrindo
caminho para maior criatividade”, considerou o psiquiatra Gene Cohen,
pesquisador da Universidade George Washington. Morto em 2009, é autor de The mature mind (não publicado no
Brasil). “Os neurônios em si talvez percam parte da velocidade de processamento
com a idade, mas as informações se entrelaçam de maneira cada vez mais
enriquecedora”, escreveu. Ele estudou os efeitos da arte sobre o cérebro e
sustentou que a bilateralização pode favorecer a criatividade, já que facilita
a conciliação de percepções intuitivas, afeto e interpretação de sinais faciais
e corporais com a fala e o raciocínio lógico, por exemplo.
Na verdade,
os cientistas imaginavam descobrir o inverso, já que durante muitos anos
prevaleceu a convicção de que, ao envelhecer, o órgão mais sofisticado do corpo
humano usava uma parcela muito menor dele mesmo – e não maior. O protótipo da descrição do envelhecimento neural era
semelhante ao de uma lesão, e partia-se
da crença de que, à medida que envelheciam, as pessoas se tornavam mentalmente
mais preguiçosas. Medições anteriores, mais grosseiras, constatavam que a
maioria dos cérebros mais velhos seriam cérebros fracos – por isso paravam de
se esforçar muito e ativavam menos neurônios. Essa visão, entretanto, foi virada do avesso.
A autoimagem
também pode ser um fator decisivo na qualidade do amadurecimento. Um estudo
desenvolvido pela psicóloga Becca Levy, da Universidade Yale, mostrou que a
memória de pessoas idosas melhorava depois da simples visão de palavras
positivas associadas a envelhecimento – por exemplo, sensato, alerta, sábio e capaz. Mesmo quando os vocábulos foram
exibidos depressa demais para que os participantes se conscientizassem da
leitura, em algum nível ela surtiu efeito. Já os qe viam de relance palavras
negativas como declínio, senil,
decrépito, demência e confuso se saíam pior nos testes de memória.
O psicólogo Thomas Hess, da Universidade Estadual da
Carolina do Norte, constatou que as
atitudes são como profecias que sempre se realizam. Em seus estudos, as
pessoas acima de 60 anos apresentavam pior desempenho nos testes de memória
quando primeiro lhes era dito algo negativo sobre a velhice, como informar que
o estudo que estava para começar era sobre “como a idade afeta a aprendizagem e
a memória”. No entanto, quando primeiro eram apresentadas informações como a “
de que não há grande declínio da memória como o envelhecimento”, o desempenho
nos testes melhorava. Constatações como essas confirmam que o cérebro maduro é
ainda um fascinante mistério – e, talvez, estejamos começando a descobrir que o
melhor ainda está por vir.
(extraído do artigo de mesmo nome da revista "Mente e
Cérebro" - Edição especial nº 32 – de escrito por Selma Corrêa –
jornalista)
Julho de
2012.
HÁ UMA LUZ NO FIM DA VIDA...
ResponderExcluirSempre, sempre.
ExcluirAbraço