sábado, 14 de julho de 2012

Nunca parar de descobrir o mundo

O que de fato importa

Analisando estudos longitudinais, os psicólogos começam a se dar conta de que a imagem da meia-idade que tivemos durante muito tempo era incompleta e enganosa. Estudos reunidos por Barbara (Barbara Strauch - no livro "O melhor cérebro da sua vida" - Zahar - 2011) indicam que talvez seja a própria natureza do envelhecimento do cérebro que nos dá uma perspectiva mais ampla do mundo, uma capacidade de discernir padrões e até sermos mais criativos.
Nessa fase da vida as pessoas “estão mais aptas a avaliar aspectos de problemas complexos e encontrar respostas concretas, em comparação ao próprio desempenho 20 ou 30 anos atrás. Também é possível lidar mais calmamente com emoções e informações – valorizando o que realmente importa e deixando de lado o que pode (e deve) ser ignorado sem grande prejuízo.
Entre todas as habilidades singulares do cérebro maduro, talvez nenhuma seja tão ou potencialmente promissora quanto o talento para a “bilateralização”. Essa espécie de “truque” aprendido com o passar do tempo parece ser uma estratégia adaptativa que alguns cérebros adotam para se manter fortes. “Em algum ponto da meia-idade começamos a desenvolver a capacidade de usar com  maior frequência os dois hemisférios cerebrais, em vez de privilegiar um deles”, afirma Barbara. Ela salienta que essa descoberta ajuda a entender por que pessoas mais velhas tendem a ter uma visão panorâmica das situações e perceber interligações. Embora seja uma característica observada em outras épocas da vida ( e obviamente varie de indivíduo para indivíduo), o “talento bilateral” comumente se inicia na meia-idade.
É possível pensar que usar os dois hemisférios para fazer o que um só era capaz quando éramos mais jovens aponta para uma carência que pede compensação. Mas um aspecto intrigante da bilateralização é que não são os cérebros mais hábeis e capazes que passam por esse fenômeno, como simplesmente se recusassem a “entregar os pontos”. Quando as dificuldades começam a surgir, sem grande esforço o cérebro “acostumado a trabalhar” chama para si a responsabilidade e vai atrás do melhor resultado. “Usamos o que nos resta de melhor e talvez isso tenha seu maior impacto na meia-idade não por estarmos aposentados, mas por ainda estarmos trabalhando e ainda precisarmos muito de nossas faculdades em ordem’, afirma o neurocientista Roberto Cabeza, pesquisador da Universidade Duke que ajudou a desvendar esse truque neurológico. “Os hemisférios esquerdo e direito ficam mais integrados na meia-idade, abrindo caminho para maior criatividade”, considerou o psiquiatra Gene Cohen, pesquisador da Universidade George Washington. Morto em 2009, é autor de The mature mind (não publicado no Brasil). “Os neurônios em si talvez percam parte da velocidade de processamento com a idade, mas as informações se entrelaçam de maneira cada vez mais enriquecedora”, escreveu. Ele estudou os efeitos da arte sobre o cérebro e sustentou que a bilateralização pode favorecer a criatividade, já que facilita a conciliação de percepções intuitivas, afeto e interpretação de sinais faciais e corporais com a fala e o raciocínio lógico, por exemplo.
Na verdade, os cientistas imaginavam descobrir o inverso, já que durante muitos anos prevaleceu a convicção de que, ao envelhecer, o órgão mais sofisticado do corpo humano usava uma parcela muito menor dele mesmo – e não maior. O protótipo  da descrição do envelhecimento neural era semelhante ao de uma  lesão, e partia-se da crença de que, à medida que envelheciam, as pessoas se tornavam mentalmente mais preguiçosas. Medições anteriores, mais grosseiras, constatavam que a maioria dos cérebros mais velhos seriam cérebros fracos – por isso paravam de se esforçar muito e ativavam menos neurônios. Essa visão, entretanto, foi virada do avesso.
A autoimagem também pode ser um fator decisivo na qualidade do amadurecimento. Um estudo desenvolvido pela psicóloga Becca Levy, da Universidade Yale, mostrou que a memória de pessoas idosas melhorava depois da simples visão de palavras positivas associadas a envelhecimento – por exemplo, sensato, alerta, sábio e capaz. Mesmo quando os vocábulos foram exibidos depressa demais para que os participantes se conscientizassem da leitura, em algum nível ela surtiu efeito. Já os qe viam de relance palavras negativas como declínio, senil, decrépito, demência e confuso se saíam pior nos testes de memória.
O psicólogo  Thomas Hess, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, constatou que as atitudes são como profecias que sempre se realizam. Em seus estudos, as pessoas acima de 60 anos apresentavam pior desempenho nos testes de memória quando primeiro lhes era dito algo negativo sobre a velhice, como informar que o estudo que estava para começar era sobre “como a idade afeta a aprendizagem e a memória”. No entanto, quando primeiro eram apresentadas informações como a “ de que não há grande declínio da memória como o envelhecimento”, o desempenho nos testes melhorava. Constatações como essas confirmam que o cérebro maduro é ainda um fascinante mistério – e, talvez, estejamos começando a descobrir que o melhor ainda está por vir.


(extraído do artigo de mesmo nome da revista "Mente e Cérebro" - Edição especial nº 32 – de escrito por Selma Corrêa – jornalista)

Julho de 2012.

2 comentários:

Olá, receba as boas vindas e um abraço.
Marcia

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