domingo, 16 de setembro de 2012

Descanso Terapêutico


Volta e meia a maior parte das pessoas constata o inevitável: as próprias energias estão se esgotando. O que parecia apenas cansaço muitas vezes se transforma  em lapsos de memória e irritação. Nos casos graves de exaustão, aparecem sintomas como enxaqueca, dor nas costas e no estômago (e em alguns casos até úlcera), queda acentuada de cabelos e síndrome do intestino irritável.  Por trás do desconforto físico está aquela conhecida palavrinha: estresse. Muitos ainda torcem o nariz quando algum médico, psicólogo ou outro profissional da saúde cogita esse diagnóstico, mas há um fato que não se pode negar: o esgotamento mental está associado a muitos problemas que atacam os órgãos ou regiões específicas do corpo.
Não é segredo que a natureza dotou nossos antepassados pré-históricos com uma ferramenta para ajudá-los a enfrentar ameaças: um sistema rápido de ativação capaz de aguçar a atenção, acelerar as batidas do coração, dilatar os vasos sanguíneos e preparar os músculos para lutar ou fugir de um predador que invadia a caverna. Porém nós, os humanos modernos, estamos constantemente sujeitos ao estresse decorrente do estilo de vida contemporâneo : excesso de trabalho, barulho, pressão social, doenças físicas e desafios intelectuais. Como resultado, muitos órgãos de nosso corpo são atingidos por uma descarga implacável de sinais de alarme que podem danificá-los e nos fazer adoecer.
Apesar das mudanças no estilo de vida, nosso sistema cerebral ainda excita rapidamente o coração, os pulmões e outros órgãos, preparando-nos para enfrentar o perigo ou fugir dele. Afinal, hoje não são as feras que nos incomodam, mas o  trânsito caótico, a sobrecarga de tarefas, os chefes intransigentes, os colegas medíocres dos quais dependemos, o risco de sermos assaltados e tantas outras ameaças. E quando enfrentamos estressores da vida moderna, o sistema pode bombardear o corpo com sinais de alarme, capazes de comprometer nossa saúde.
Quando os sentidos como visão, audição, ou mesmo os pensamentos indicam estresse, o hipotálamo inicia uma reação em cadeia, que envolve a amígdala (cérebro) e as glândulas pituitárias  e adrenais, conduzida por impulsos nervosos e uma cascata de hormônios, entre eles o CRH, o ACHT e os glucocorticoides. Se os cientistas conseguirem determinar exatamente quais células receptoras no cérebro e nas glândulas propagam os sinais de esgotamento, poderão criar drogas específicas para interferir nesse processo, poupando os órgãos do esforço que o estresse provoca.
O sistema de resposta do organismo produz feedback positivo para fortalecer a própria ação do estresse quando necessário, mas, se situações de tensão ocorrem constantemente (não raro em várias ocasiões por dia), há um acúmulo que pode tornar-se perigosamente intenso. Apropriada ou não, a reação depende, em grande parte, das células que encobrem  a glândula pituitária. O CRH envia sinais para essas células por meio de moléculas receptores tipo 1 na membrana celular. Há alguns anos, os pesquisadores do Instituto Salk e do Instituto Max Planck de Psiquiatria em Munique criaram camundongos nos quais receptores tipo 1 estavam ausentes. Mesmo quando expostos várias vezes a situações estressantes, os níveis sanguíneos de certos hormônios do estresse desses animais nunca se elevaram acima do normal. Eles sentiam-se obviamente menos estressados. É possível que drogas capazes de suprimir os efeitos do CRH nesses receptores possam, também reduzir os níveis de estresse em pessoas perturbadas.
Conhecimentos mais recentes acerca do funcionamento do cérebro oferecem fortes indícios de como a tensão pode nos fazer adoecer e como neutralizar seus efeitos. Seja para um roedor, seja para uma pessoa, qualquer ativação do sistema de estresse é um evento extraordinário – e no momento em que a emergência termina, o sistema deve ser rapidamente desligado, de modo que os órgãos afetados possam se recuperar. Contudo, quando circunstâncias externas estimulam o sistema de estresse repetidamente, ele nunca deixa de reagir, e os órgãos nunca conseguem relaxar. Tal tensão crônica torna muitos tecidos vulneráveis a danos.
Mas nem toda reação é igual. Certo nível básico, chamado estresse positivo, é até desejável, porque nos mantém física e mentalmente prontos para agir bem. Porém, quando estamos em risco? Não há resposta consensual a essa pergunta. Não sabemos quanto barulho no ambiente de trabalho ou quantos relacionamentos rompidos nosso sistema de estresse pode suportar. Entretanto, um conjunto de pesquisas em desenvolvimento mostra que o estresse crônico compromete nossos órgãos e corpo. Embora já não enfrentemos o animal faminto na caverna, podemos ter de nos defrontar com dilemas igualmente terríveis, envolvendo diversos estressores mais insidiosos que estão sempre nos agredindo.
Então, o que fazer para diminuir a carga que pode nos prejudicar de forma tão grave? Cada vez mais psicólogos e médicos alertam para uma  providência aparentemente simples, mas que pode fazer grande diferença para o bem-estar físico e mental; criar “brechas de prazer” na rotina em vez de apenas aguardar, ansiosamente,  pelas férias anuais. Ao praticar com frequência atividades prazerosas, de preferência que envolvam movimento ou relaxamento do corpo – como caminhadas, esporte, dança, meditação ou massagem – criamos válvulas de escape para a tensão, ajudando o sistema cerebral a “descansar”. E assim ganhamos fôlego para aguardar as merecidas férias.

(artigo extraído da Revista Mente Cérebro – Edição Especial no. 32 – “Sete Segredos do Cérebro Saudável”- autora – Selma Corrêa - jornalista)

Para saber mais:
·   “Combate à exaustão mental” – Robert Epstein – Coleção Doenças do Cérebro no. 3
·  “As duas faces do estresse” – Mathias V. Schmidt e Lars Schwabe – Coleção Doenças do Cérebro no. 3


  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, receba as boas vindas e um abraço.
Marcia

Quem sou eu

Minha foto
Psicóloga junguiana com visão transpessoal